Já comentei com vocês mais de uma vez que tenho uma relação complexa com o tempo. Íntima e boa, mas ainda difícil. Eu me sinto ameaçada por ele. Por seu tamanho, comprimento, densidade. Por saber que sempre, não importa o que eu faça, ele irá mudar o que está ao meu redor e permanecerá inalcançável.
Não consigo entendê-lo e muito menos tocá-lo. É um fugitivo. O coelho da Alice. Sim, é exatamente dessa forma que vejo o tempo: um coelho que corre e me faz de boba. Me faz correr, correr até me cansar, perder o fôlego e o ver mais longe ainda. Prega peças, ri da minha incapacidade. E eu ainda o amo.
Dito isso, levo essa questão para todo o pensamento que brota na escrita ou no meu campo de visão. Num dia desses, estive com uma pessoa de quem gosto muito e muito me ensina também com a vasta experiência e delicadeza, a sabedoria que está nos filmes como uma avó ou uma coruja, sabe? Ela é essa personagem na minha vida.
Nós conversávamos sobre a minha própria ansiedade. Ela, muito atenta, esperou que eu terminasse de dizer o que sentia e respondeu: “eu acho a ansiedade um tipo de falta de educação. Veja, o que são os dias? Não chamamos o agora de presente? Porque, de fato, ele é. O recebemos da vida e precisamos desembrulhá-lo. Esse de agora, não qualquer outro que você acha que vai receber. Quando você recebe um presente e não abre, pior, fica pensando no outro que pode vir, você está sendo mal educada com a vida, não está? Pense: ela te deu um presente bonito e você deixa de abrir por estar preocupada com algum feio que ela pode te mandar? Abra o presente.”
Eu me lembrei das vezes que abri presentes na vida quando criança e gostava muito. Nunca fui aquela criança que via o fato de receber presentes com banalidade, com um sentimento de normalidade, algo comum que não merecia minha atenção. Sei que muitas crianças reagem dessa forma atualmente, não todas. Mas eu tive uma educação entusiasmada, eu fui criada por uma mãe que é profundamente entusiasmada com a vida. Então, eu enlouquecia ao ver um pacote. Abria imediatamente e com os olhos brilhando.
Mas eu tinha um hábito ruim. Depois que descobri que, na verdade, minha mãe que era o Papai Noel, sempre pedia para abrir o presente antes do dia de Natal. Minha mãe achava graça e deixava muitas vezes. Eu já encontrei coisas escondidas no armário, no carro dela, atrás do sofá… Acredito que isso já denunciava um pouco da minha ansiedade, mas era o entusiasmo de ver algo novo, uma certa alegria que vinha estrangeira, me causaria um sentimento de novidade, do que ainda não conhecia.
E depois daquela conversa que contei lá em cima, fiquei pensando que as minhas preocupações com o futuro e todo o resto que pode chegar me fizeram abandonar esse sentimento de entusiasmo - que eu acredito ser uma espécie de liberdade. Estar entusiasmado é ignorar as coisas ruins, as sombras, as nuvens escuras. É uma permissão, uma licença para ser alegre e feliz agora, mesmo que seja por segundos, o entusiasmo nos permite isso. É uma esperança brotando. Uma notícia boa.
Eu vim te contar essas coisas porque estamos chegando perto do Natal e embora eu saiba que o significado dele está bem longe dos presentes, eu gostaria de tentar realizar o pedido que faço o ano todo: abrir o meu presente que é o dia que vivo, olhando apenas para ele e me enchendo desse entusiasmo que contei.
Lutar contra a ansiedade é se esforçar para esquecer os próximos pacotes e olhar para o que recebemos hoje. Muitas crianças gostam mais de desembrulhar o presente do que do presente em si. Acredito que gostem tanto pelo momento de liberdade que aquele rasgar todo de papéis permite, pelas cores do pacote, pelo tamanho, pelo inesperado que é. Que seja assim conosco também, que possamos permanecer com os olhos nesse movimento que nossas mãos fazem ao abrir o que ganhamos e que consigamos nos permitir a desembrulhar esse “hoje”.
Uma semana inundada pelo entusiasmo pra você.
Beijos açucarados,
Mel
Para o seu café da manhã
Avocado toast
Ingredientes:
1 fatia de pão da sua preferência
Manteiga
Ovo
Cream cheese
Azeite
Sal e pimenta do reino
Limão
Modo de fazer:
Toste seu pão com uma colher de chá de manteiga na frigideira bem quente. Corte o avocado ao meio (pode ser abacate comum também) e retire a parte de dentro da fruta com uma colher e corte em fatias. Tempere com sal, azeite, pimenta do reino e limão. Faça o seu ovo poché no microondas: coloque 1/4 xícara de água num bowl e o ovo. Leve ao microondas por 50seg. No pão, passe uma colher de sopa de cream cheese, depois coloque o avocado e ovo por cima. Tempere com sal e pimenta. Esse é um dos meus toasts favoritos!
Se fizerem, me contem o que acharam depois :)
Indicação literária dos leitores
Hoje a Vilma Ribeiro (@eu.vilmaribeiro no Instagram) indicou o livro Caderno proibido - Alba de Céspedes. Esse é um dos livros que mais tocou em mim quando fiz a leitura, lembro que estava construindo a Amélia (uma das protagonistas do meu romance “A poeira de um nome”) e a personagem da Alba me fez lembrar muito da minha avó também. É um livro primoroso, incrível. E a Vilma é uma grande amiga e uma grande escritora que muito admiro. Então, a indicação de hoje é muito especial!
Se você também quer indicar um livro para os leitores da News, deixe nos comentários ou nos envie uma mensagem no perfil do Instagram (@domingocomacucar)!
Que texto lindo e tão necessário no dias de hj obg por compartilhar ❤
Ansiosa para encontrar com suas personagens. Mas, praticando viver o agora, aguardo o dia que será o presente de ter você aqui em Sampa e pegar das suas mãos.