Uma vez ouvi que, de todos os presentes que recebemos na vida, a liberdade é um dos maiores. O poder de escolha, a possibilidade de ir e vir, a capacidade de se sentir livre. Há alguns anos, assisti a um grande filme (talvez você também já tenha assistido) e a cena final nunca mais saiu da minha cabeça. O filme é O diabo veste prada. Já sabe de qual cena estou falando? Isso mesmo, a do celular na fonte.
Me lembro que, como era ainda uma criança, fiquei intrigada na época. Não entendi por que a personagem principal desistiu de algo que ela tanto batalhou para conseguir. E isso ficou comigo, essa dúvida, essa angústia.
Você conhece a frase “é justo que muito custe o que muito vale”? Eu acho que foi mais ou menos por aí que justifiquei minha indignação na época. A montanha era enorme e tortuosa. Demoramos para subir, escorregamos, sofremos, mas subimos. Por que não aproveitar a vista?
A verdade é que a personagem principal estava aprisionada. Andy estava sacrificando todas as coisas que eram importantes para ela, a própria liberdade, saúde mental e paz para algo que não era seu “sonho final”, era uma ponte. Eu me pergunto quantas pontes já nos fizeram abrir mão de coisas importantes e nem eram o nosso sonho final ou a nossa montanha?
De fato, o que vale muito pode custar muito. Mas quanto? Eu me considero uma pessoa determinada, vou atrás do que sonho com unhas e dentes e madrugadas a fio. Entrego minha energia, meus pensamentos, minha disposição, paciência e vamos. Mas também sei que se algo que quero me obriga a abrir mão dos meus valores e princípios fundamentais - aqueles que me permitem estar de pé e me fazem ser quem sou lá no fundo da minha alma -, prefiro dispensar.
E disse tudo isso para falar aqui sobre liberdade ou melhor, sobre as coisas que nos aprisionam. Se você não conhece a cena que mencionei lá no início, coloco aqui para que possa assistir:
Anos mais tarde, entendi o que essa cena significa - e me emociono até hoje quando assisto. As coisas que nos aprisionam e nos arrancam o que de fato acreditamos são as coisas que também nos tiram a vida de nós.
O que é tirar a vida de nós? É não viver tudo de tão bom que você poderia, que você viveria. É dar lugar à tristeza em vez (talvez muitas vezes) da alegria. Uma vida aprisionada é uma vida sem cor. Aos poucos, quem vive uma rotina aprisionada vai perdendo o sabor, a vontade, o gosto pelas coisas que gosta e o mundo ao redor fica opaco. Tudo perde o sentido e nunca sabemos o motivo.
A Andy não tinha um smartphone, nem tinha baixado o TikTok ou passava mais de dez horas na frente de um celular, mas ele era o instrumento de trabalho dela. E um trabalho que a solicitava o tempo todo, sem cessar. Um trabalho que a obrigava entregar o tempo livre que tinha e todas as coisas que amava sem pedir permissão, como um trator passando por cima de tudo.
Hoje, somos nós que estamos solicitando nossos celulares o tempo todo, sem cessar. Eu já cheguei a procurar o meu enquanto ele estava na minha mão, não sei você. Estamos tão preocupados em não perdê-los ou em levá-los conosco como dama de companhia para todos os lugares que até no chuveiro algumas pessoas levam. Já não assistimos filmes e séries sem ele na mão, usamos para fazer a lista do supermercado e até para nos comunicarmos com pessoas que estão do nosso lado.
Nessa semana, tive o privilégio de poder “jogar meu celular na fonte” por algumas horas (na verdade, deixar guardado na bolsa até a bateria cair) durante o aniversário do meu pai. Naquele momento, estavam comigo todas as minhas pessoas urgentes, que se me ligarem precisando de mim, preciso estar pronta para atender e sair correndo de onde estiver (não dá para desligar o celular um dia inteiro quando se tem filhos pequenos, por exemplo, ou família viajando ou pessoas que podem, eventualmente, precisar de você, afinal, é para isso que esses aparelhos servem).
Essas pessoas de quem falo estavam ali, então, não havia a menor necessidade de encostar a mão no telefone. A maioria de nós talvez o pegue para se entreter, mas muitos de nós também perdem a mão no tempo de entretenimento. E aí deixa de ser uma escolha, mas uma necessidade.
E tudo o que necessitamos, não podemos viver sem. Não podemos abrir mão. É uma cerca invisível em volta de nós porque eu e você sabemos que, na verdade, não precisamos dele para estarmos vivos, é nossa vida emocional que encontrou uma fuga, um estímulo rápido de prazer e euforia e não consegue largar.
Nós podemos jogá-lo na fonte, na bolsa ou na gaveta se desejarmos. Não precisa ser para sempre, entenda, o que você não deve abrir mão é da possibilidade de fazer suas escolhas e ser capaz de enxergar e experimentar a verdadeira vida que está diante de você.
Um domingo cheio de tempo de qualidade para você.
Beijos açucarados,
Mel
Para o seu café da manhã
Pastinha de ovos cozidos
Ingredientes:
2 ovos cozidos (cozinhe em 11-12min)
2 colheres de sopa de iogurte grego
Azeite, sal e pimenta do reino
Modo de preparo:
Fatie bem os ovos em pedaços pequenos. Leve-os para um bowl e misture com as duas colheres de iogurte. Adicione azeite, sal e pimenta e tempere com as ervas que mais gostar (salsinha ou cebolinha ficam ótimas). Mexa tudo e use para rechear pães, tapiocas e torradas. Fica uma delícia! Obs: eu amo em cima de um pão tostado na manteiga!
Se fizerem, me contem depois :)